Exclusivo: Quixeramobim terá primeiro casamento homoafetivo do Sertão Central
Tudo que elas querem é apenas ter o direito de oferecer garantias reciprocas.
O
município de Quixeramobim está em iminência de sediar mais um fato
histórico, trata-se do primeiro casamento homoafetivo que será
registrado na região do Sertão Central cearense. E para a surpresa será
entre duas mulheres que recentemente solicitaram o direito a Justiça da
Comarca de Quixeramobim.
Com exclusividade a reportagem do portal Revista Central,
entrevistou Marileide Rocha Sousa e Kamila Ferreira Pinheiro que
entrarão para a história da região pela coragem e exemplo de luta contra
o preconceito fluente nos dias atuais.
A informação foi dada por um leitor através do Fale Conosco,
e quando entramos em contato as mesmas não se intimidaram em expor a
iniciativa para a sociedade, “não temos o que esconder e tampouco
queremos ser espelho. Buscamos apenas um direito que a lei nos ampara".
A
nossa equipe foi recebida na residência onde as duas moram na tarde de
ontem,16, e durante cerca de uma hora elas revelaram detalhes de como
iniciou o relacionamento amoroso que agora possivelmente tornará em
casamento garantido pelo Estado.
Detalhes
Marileide
Rocha Sousa (Mary), 37 anos, é professora de Inglês, já teve uma
relação estável durante 11 anos, neste estágio adotou dois filhos, sendo
uma garota de 8 e um garoto de 11 anos. O casal mora com ela e com a
parceria, inclusive tem conhecimento do assunto, porque ela mesma
resolveu contar aos filhos e garante que eles aceitaram sem nenhuma
restrição.
Kamila
Ferreira Pinheiro, 26 anos, Consultora Empresarial, disse que já
namorou sério com homens, mas percebeu que a sua “praia” era outra.
Garante que está vivendo a melhor fase de sua vida e ao lado da pessoa
amada.
As
duas estão de alianças após terem registrado um contrato de União
Homoafetivo no cartório Queiroz Rocha, no dia 8 de setembro de 2011. No
contrato há uma cláusula em que ficou estabelecido que pertencerão à
ambas, em condomínio, todos os bens e direitos requeridos na
convivência, presente ou futuro, sendo está aquisição onerosa ou
gratuita. O casamento será na comunhão universal de bens.
Relação
Mary
contou que o relacionamento das duas está com quase dois anos e que
sempre tiveram vontade de casar-se, com objetivo de garantir o futuro de
uma das duas em caso de doenças ou morte, mas por ter o direito negado
pelo Estado, conviviam em união estável e que após a decisão do STF, que
decidiu garantir aos homossexuais a certidão de casamento, não pensaram
duas vezes e foram nos dias seguintes ao cartório, mas receberam a
resposta de que precisam de um tempo para se inteirarem da decisão.
Passado alguns meses elas retornaram e receberam resposta positiva que
podiam registrar o Contrato, que também pede que seja convertido em
Certidão de Casamento pela Justiça no regime de comunhão universal de
bens.
Hoje
as duas moram em residência própria no bairro Edmilson Correia de
Vasconcelos, casa mobilizada, aproveitaram e compraram também um carro
para a família.
Opinião Familiar
Ao
serem questionadas a professora Mary fez questão de destacar: “a minha
família é nota 1.000, minha mãe, pai, irmãos estão apoiando e demonstram
um grande carinho por Kamila”, destacou. Ao perguntar a Kamila sobre a
sua mãe, preferiu dizer que vive o melhor momento de sua vida ao lado
de sua amada.
Opinião pública
“Tudo
que eu quero é ser feliz, portanto, sobre a opinião de pessoas que não
tem nada haver, em nada vai mudar”, destacou Mary, contando ainda que
nos locais públicos não ficam se beijando, não por vergonhosa, mas pra
evitar eventuais constrangimentos de pessoas que não estão inseridas na
realidade do mundo moderno.
Opinião dos Filhos
“Meus
filhos estão muito bem orientados, caso alguém queira saber do assunto,
eles vão mandar falar comigo. Sobre a Kamila eles gostam muito dela e
ela deles”. Sobre uma possível adoção de outra criança, elas ainda não
pensaram na ideia.
Dia do Casamento
O
casal está preparado para um eventual indeferimento no pedido na
primeira instância, caso aconteça, elas pretendem recorrer ao Tribunal
de Justiça do Ceará, mas acreditam que tudo será resolvido em seu
município. E neste dia haverá festa, pois será selado um feito
histórico na região e o portal Revista Central já foi convidado a registrar o ato.
Para
Kamila Ferreira e Marileide Rocha o mais importante de tudo isso não é
selar no cartório um casamento, mas o respeito e o sentimento verdadeiro
que existem entre as duas. Elas acreditam que a partir da iniciativa de
registrar, para garantir os direitos que as leis asseguram a todo
casal, outros homossexuais que vivem na mesma situação, também tomarão a
mesma iniciativa, “não queremos ser espelho para ninguém, mas com
certeza outros casais seguirá o mesmo exemplo”.
No fim da entrevista as duas exibiram o contrato para as lentes do portal Revista Central, demonstrando a sua felicidade, bem como as alianças de compromisso.
Jackson Perigoso
Reportagem
Chico Javali
Fotos